Coronelismo X Traficante
Na realidade, o coronelismo já existia desde os tempos do Império. Os coronéis eram em sua maioria latifundiários estabelecidos no nordeste e que exerciam poder sobre extensas áreas dessa região, assim sendo eram fazendeiros que tinham postos de comando na Guarda Nacional, e mesmo depois de extinta a Guarda Nacional o título continuou a ser usado pelos grandes proprietários de terras da República Velha. Nesta época a economia brasileira era fundamentalmente agrária, aproximadamente 70% da população trabalhava na agricultura a onde os coronéis detinham grande poder, como no nordeste em que possuíam diversos poços de água, usufruindo os nordestinos que sofriam com a miséria do clima escassez, falta de terra e água, e dessa forma os coronéis tinham em suas mãos a massa do poder de miseráveis, tais miseráveis dependiam do salário de baixo nível e de “favores”, para a sobrevivência de seus filhos; ao auxílio a educação, doenças, etc.
Havia, portanto o voto censitário (baseado na renda) aonde 12 milhões de habitantes tinha direito ao voto, com a república, decretou-se o fim do voto censitário e institui-se o voto para o brasileiros maiores 21 anos sendo excluído os analfabetos, padres, soldados e mulheres, mas havia um porém em que os eleitores não poderiam votar de forma livre e democrática, o sistema eleitoral era baseado no voto aberto em que sofriam violenta interferência e “troca de favores” em que o coronel exigia que as pessoas votassem nos candidatos políticos por ele indicado, caso houvesse negação ao voto, vinham-se o prejuízo em que seus “favores” eram perdidos e às vezes ficava sujeito a violência dos jagunços, ou capangas que trabalhavam na grande fazenda.
Hoje, a economia brasileira é diversificada, em aproximadamente 75% da população vive nas cidades e apenas 25% vive no campo, mas ainda há o grande temor. Não é em todos os lugarejos, mas principalmente nos grandes Estados em cidades carentes ainda há os “traficantes” assim denominados como “novos coronéis”, um exemplo bem especifico e a Rocinha uma comunidade carente do Rio de Janeiro, que tem mais de 120 mil habitantes, mais que o suficiente para eleger vereadores, deputados estaduais e federais.
Há poucos dias, a polícia civil do Rio encontrou, na residência fixa de três andares do líder do tráfico local, uma provável ata de reunião dos traficantes de lá, na qual se determinava: “Todo o empenho para o candidato da Rocinha!!! Ninguém trabalhando para candidato de fora. Não agendar visita e não convidar para eventos outro candidato”.
O Estado pode ser. Os traficantes e milicianos do Rio, não. Vinte e nove candidatos já denunciaram ao TRE-RJ terem sido impedidos de entrar em comunidades carentes.
A ata da Rocinha também trata da questão do ir e vir: “Convidar os amigos que trabalha para outro político para a próxima reunião. Quem faltar, vai mandar buscar”. É a obrigação de ir à reunião ou o direito de virem te buscar pra ela.
A ata dos traficantes da Rocinha ressuscita o Brasil oligárquico, quando os latifundiários eram os “coronéis” da Guarda Nacional, praticamente um título de nobreza criado no Império, daí o termo Coronelismo para os currais eleitorais da República Velha.
Hoje, na Nova República, os traficantes ou milicianos criam um estado paralelo ao Estado republicano decadente, cuja “privatização”, a prevalência dos interesses privados, pessoais, corrompeu a máquina administrativa e gerou tantos desvios de verbas que a PF.
Na República Velha, os “coronéis” se beneficiavam da pobreza, da ignorância, da despolitização e, principalmente, do medo da população rural. Na Nova República, esses mesmos elementos são à base da exploração urbana. Essa exploração é facilitada pelo Estado republicano, mais que centenário, mas ainda incapaz de promover empregos, educação e segurança, entre outras coisas. O Estado, que no início do século XX não passava da porteira das fazendas, hoje, no século XXI, não passa da entrada das comunidades carentes. E, lá dentro, aonde as verbas não chegam porque, antes, já foram desviadas, campeia o autoritarismo, o clientelismo, o assistencialismo e o banditismo. As quadrilhas de traficantes e milicianos repetem os coronéis-fazendeiros e seus jagunços, o de estabelecer a dependência ou morte.
O resultado político de tudo isso foi e é o voto de cabresto, na República Velha e na Nova. O poder econômico distribui favores e balas para subjugar o eleitor.
No século XXI, o eleitor, que pensava já ser cidadão, continua sua vida de gado. E o pior, gado de corte, ameaçado a toda hora de passar de excluído a banido ou até morto.
Em 119 anos de República, muitos políticos se tornarem criminosos. Agora, cada vez mais, os criminosos se tornam políticos para conquistarem imunidades.
Se você morasse em um desses lugares, com toda a sua cultura, politização e personalidade, não pensem que votaria em outro candidato que não fosse “o candidato da comunidade”.